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O massacre de Alto Alegre 95 Os fatos principais que particularizam a tragédia de Alto Alegre nunca serão conhecidos com absoluta certeza. Os índios, seus executores e únicos supérstites, procuram sempre, com subterfúgios maldosos e contradi- ções propositais, envolver tudo em mistério e manter escondidas do público todas as circunstâncias. Nos depoimentos, alguns confessaram ter matado um padre, uma freira, um órfão ou uma órfã, um membro de uma família cristã ou uma família inteira, para serem depois contraditados por outros. Aduziram-se razões e motivos para o massacre, mas são tão insustentáveis e inadequados que não merecem crédito nenhum. Se tivesse escapado uma que fosse das vítimas destinadas ao massacre, teríamos sabido algo positivo. Mas o massacre foi completo. Apenas uma menina salvou-se, mas era peque- na demais para entender o que quer que fosse. E, assim, o que hoje se sabe e se conhece são somente induções e nada mais. Mas continuemos. Seis meses após a catástrofe, o viajante que andasse às imedia- ções de Alto Alegre encontrava casas abandonadas ao longo do caminho, indícios da catástrofe, e, à medida que avançasse até o teatro da tragé- dia, multiplicavam-se os sinais da devastação selvagem que ali se fizera. O quadro estava à mostra em todo o seu horror, nem as matas virgens das proximidades chegavam a encobri-lo a seus olhos. Onde o fogo não havia carbonizado as casas desprotegidas, o machado tinha-as posto ao chão, e tudo estava destruído. Nada que levasse a marca da civilização fora poupa- do. A ruína se apresentava em toda a sua enormidade. Passados os primeiros lugares onde os índios tinham começa- do sua obra de destruição, atravessa-se um extenso baixio que vai acabar depois da localidade chamada Dúvida, ao pé de uma elevação em cujo topo ficava a propriedade agrícola de Alto Alegre. A estrada dominava a pequena extensão de terreno baixo, para depois entrar numa mata quase impenetrável, deixando à direita o brejo perto de seu declive. Ao tempo em que essas coisas aconteceram, março de 1901, as chuvas tinham caído em abundância e inundado todos os caminhos. Quem chegasse ao pé da mencionada elevação, encontrava todas as passagens inter- rompidas por árvores que foram derrubadas e atiradas nelas. Para evitar o obs- táculo imprevisto, seria preciso contorná-las. Lá se entrincheirou o primeiro agrupamento de índios, e, na altura em que se achavam, eles observavam, pelo claro da floresta, todos os movimentos do infeliz que tentasse seguir adiante.
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