BCCCAP00000000000000000001766
94 Pe. Bartolameo da Monza São apenas sulcos tortuosos cavados pelas chuvas, que vão da Barra do Corda a Grajaú, quase impraticáveis no tempo chuvoso, e que muitas vezes se trans- formam em pequenos córregos. As matas virgens são sempre imponentes em sua magnificência, mas quem viaja continuamente sob aqueles arcos virentes, escuros e tristes, sente a necessidade de um alívio, e dele cuida o Criador, como a um encarcerado que espera ver um raio de sol. Nos baixios, as águas da chuva fazem surgir como que pequenos lagos, cuja formação, por sua natureza, gasta e destrói as grandes raízes: com o tempo, tudo apodrece e torna o solo muito rico. Inacessível ao nosso cultivo, a riqueza do solo produz uma vegetação mui- tíssimo luxuriante, toda à flor d’água, formando vales e campos improvisados que jamais cansam a vista do viajante. Ele para, repousa, admira o Rei do dia, para de novo penetrar nas matas que fazem coroa àqueles campos. Quem da Barra do Corda vai a Grajaú encontra muitos terrenos baixos, interrompidos, vez por outra, por pequenos morros e elevações, que os rios Grajaú e Mearim circundam e abraçam. Contudo, o expedito viajante trata de parar o menos que possa, primeiro por causa do grande número de insetos que tornam a passagem um verdadeiro purgatório e, depois, por causa do perigo permanente de febres palustres. Para o viajante que, em 1901, era obrigado a passar por aqueles caminhos, depois dos horrores de Alto Alegre, a natureza do lugar não exercia mais nenhum atrativo. Acabrunhamento e dor residiam no ânimo de todos. Aqueles lugares mostravam um aspecto tétrico, lúgubre. Ali rei- nava só devastação e destruição. Parecia que um grande cataclismo tinha passado por aquele lugar, para destruir e aniquilar tudo. Sua população já não existia, um silêncio pungente reinava naquelas matas, e apenas surgiam à mente sombras fantasmagóricas que a imaginação, ainda perturbada pe- las cenas horríveis de um drama sanguinolento, reapresentava à memória. No momento do primeiro terror, ninguém se atrevia a atravessar aquele espaço. Lá reinava o silêncio, o silêncio da morte. Passado o momento do primeiro terror e espanto, foi mandado um destacamento militar, para proteger, naquela solidão onde reinava só a morte, a livre passagem do viajante, fechada pela inesperada insurgência das tribos indígenas. Mas os ânimos ainda não se sentiam tranquilizados: as lembranças eram por demais lúgubres para que fosse restabelecida a necessária confiança de se andar seguro. Só pouco a pouco o caminho se reabriu. Mas ai!, quanta diferença do que antes existia!
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDA3MTIz