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O massacre de Alto Alegre  83 família contra família. Convidaram um capuchinho missionário para ir a certo lugar tentar uma pacificação. Lá se foi o padre Rinaldo. Logo que partiu, foi descoberto o nefando propósito do convite. Imediatamente foi enviado ao seu encontro um cabra, ou um bravo daquele tipo descrito por Manzoni. 5 Este recebera ordem de trazer de volta a barba do missionário e o rabo do burro em que andava. O padre Rinaldo só escapou porque o valente pensava que o sacerdote ia pela estrada que leva a Alto Alegre, enquanto ele tinha tomado o caminho da mata, para dar assistência a um doente. O cabra , que não sabia disso, ficou a esperá-lo por algum tempo, mas vendo que não chegava, pensou que, em vez de Alto Alegre, ele tivesse ido a Barra, e voltou a seus mandantes, sem a barba e sem o rabo do burro. Não muito depois que o padre Rinaldo saiu da mata, disseram-lhe que haviam armado uma emboscada para matá-lo, e ele tomou conhecimento que tinha escapado da morte certa. Também naquele tempo foram vistos pastores protestantes e doutores visitando as aldeias evangelizadas pelos missionários católicos, que eram os nossos padres capuchinhos. Isso nunca se tinha visto antes. O que disseram os seguidores da Reforma, não foi possível saber. O fato é que, depois daquelas visitas, muitos largaram o trabalho, outros ficaram irrequietos, recalcitrantes, e a paz era perturbada. Após o massacre, um pastor protestante não teve vergonha de afirmar em público que os sel- vagens tinham feito muito bem em massacrar os frades. Esta notícia eu a recebi no lugar. Outro fato veio indicar o estado de agitação em que se achavam os selvagens. O padre Mattia de Ponteranica unia o amor à ciência ao es- pírito de missionário. Aficionado à botânica, aproveitava suas incursões às matas para estudar a flora. Tendo ouvido que perto da foz da torrente San- to Estêvão, cerca de vinte léguas da Barra do Corda, havia uma aldeia dos canelas chamada Ponto, ele, na esperança de encontrar pequenos selvagens para a escola e flores para cultivar, acompanhando-se de dois selvagens do instituto que conheciam o caminho e o lugar, viajou à dita aldeia dos cane- las. Quando chegou lá, o cacique ordenou aos selvagens que se reunissem. 5 Um bravo daquele tipo...: referência aos capangas da personagem Dom Rodrigo, no romance I promessi sposi (Os noivos), do escritor italiano Alessandro Manzoni. (N. T.)

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