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82 Pe. Bartolameo da Monza que estes civilizados inimigos da cruz, vendo o grande bem espiritual que se fazia na colônia, e o seu surpreendente progresso material, e que em pouco tempo ela seria autossuficiente, porque os selvagens já levavam seus produtos à praça da Barra do Corda, começavam a espalhar vozes sinistras contra a Missão e os missionários. Como sempre, começou a adulação, de cuja influência ninguém é isento. Passaram a murmurar aos ouvidos dos selvagens que eles não tinham mais necessidade nem de missão nem de missionários; que, desde que já estavam civilizados, apenas o contato com os missionários era mais que bastante para conservá-los como tais; que ficando sob a dependência dos missionários, seriam daí a pouco tratados como outros tantos escravos; mas, pelo contrário, uma vez livres deles, se misturariam mais facilmente com os outros civilizados, e todas as diferenças desapareceriam; que, depois de tudo, os missionários o que faziam era trabalhar para si mesmos e para os seus interesses; que, se afinal os pagavam e os deixavam com roças e terrenos para cultivar, era apenas para enganá-los mais facilmente; que eles ficariam bem melhor com patrões seculares, em lugar de religiosos; que os missionários outra coisa não faziam mais que ensinar utopias; que era melhor viver livremente e de acordo com a própria vontade; que a religião que os padres ensinavam não era mais que o efeito de uma ilusão; que, se se queria fazer o bem, seria melhor fazê-lo por amor do bem, e não pela esperança de um paraíso e pelo temor de um inferno, que não existem; que uma religião que se opõe necessariamente às aspirações dos homens não pode ser uma religião verdadeira; que os missionários não eram senão uns iludidos que iludiam os outros. Os exercícios de piedade para eles eram sussurros ridículos, e diziam: “Olhai como nós civilizados vivemos, e nada nos importa do que os missionários estejam a dizer.” 4 Por este tempo, atentaram contra a vida do padre Rinaldo, e não foram os selvagens que fizeram isso, mas gente que se chamava civi- lizada, e que estava então dividida em facções, e em estado de guerra de 4 Vejam-se os artigos escritos nos jornais Diário do Maranhão , Pacotilha , etc., assina- dos por Araújo Costa, F. Saraiva, Celso Aurélio, Francisco de Melo Albuquerque. Tais artigos são uma ladainha de mentiras e blasfêmias contra Deus, contra a Igreja, contra os missionários. É verdade que os artigos indicados foram escritos após o massacre, mas o espírito deles já tinha sido inoculado nos selvagens.

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