BCCCAP00000000000000000001766
O massacre de Alto Alegre 67 se ergue a uma altura fabulosa, firme, ereto, soberbo, e parecem competir com o alto do céu, apresenta tal imponência que não apenas causa ma- ravilha, mas aturde. Lá tudo é grande, tudo é magnífico. Parece ver-se a natureza quando no seu primeiro e pleno vigor saiu das mãos do Criador. Uma nova vida como que renasce, e, encantados pela magnificência que nos circunda, como que experimentamos os mesmos sentimentos do pri- meiro homem, quando pela primeira vez abriu os olhos à luz e foi posto no Lugar de Delícias. O rio é repleto de belezas, curvas graciosas, enseadas, ilhas flutuantes de ervas e flores em monte, que ora baixam, ora sobem, conforme a maré avance e entre por muitas léguas, colinas circundantes a lhe fazerem coroa, grotas encantadas formadas por enormes parasitas que se enroscam e sobem sobre velhas árvores e as cobrem de imensos e pesados dosséis verdejantes, esmaltados de flores das mais variadas cores, cabanas espalhadas por longos trechos como sentinelas avançadas, servindo de mo- radia aos poucos e escassos habitantes, ou de refúgio para os viajantes e abrigo para os animais, plantações de banana e coco, e palmeirais de folhas verde-escuras. O sol parece esconder-se no ocaso somente para dar repouso à natureza, enquanto a luz tremulante das estrelas desce e repousa sobre a verde crina das árvores. Mais tarde, a lua se espelha nas águas do rio que se inebria no pudor de sua luz: tudo isso forma um hino uníssono ao Criador, um sorriso que rende e dá glória à sua onipotência. Mas aquelas viagens, de início, tão poéticas, escondem também grandes inconvenientes. A comida é péssima e pouca: não raro se reduz a arroz mal cozido n’água, com picadinhos de carne-seca e, no mais das vezes, fedendo. A água é turva, nem outra coisa há para extinguir a sede. Avançada a noite, o vapor para e, não possuindo cabines para nelas se passar a noite, é necessário desembarcar e sair à procura de alguma caba- na. Achando-a, garante-se uma rede e se tenta achar um jeito de dormir. Mas logo um exército de carapanãs ensurdece com seu contínuo zumbido, enquanto a contínua ginástica em afastá-las e livrar-se de suas picadas pun- gentes e venenosas impede o repouso. Extenuados, finalmente fecham-se os olhos, oh! pobre corpo! Quando se acorda, mais parece ter-se passado por uma assadeira: o corpo está inchado, e um prurido quase insuportá- vel o incomoda, o atormenta e não lhe dá paz. Todos desejam que a via- gem termine o quanto antes. Mas o comandante do vapor e todos os seus
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDA3MTIz