BCCCAP00000000000000000001766
60 Pe. Bartolameo da Monza Entre os primeiros selvagens que vieram residir na colônia, acha- va-se um de seus caciques, que pertencia à aldeia do Coco. O seu nome era Antônio Correia Lima. Exaltado com o título de capitão, ele já havia estado em contato com os civilizados, de quem conhecia virtudes e vícios. Em termos de malícia, esperteza e astúcia, não ficava em segundo lugar para ninguém: era uma serpente, para não dizer um demônio. Sempre respeitoso para com os missionários, nunca deixava, quando em presença deles, de exortar os selvagens de sua tribo a ouvir a palavra dos padres, e se- guir em tudo e sempre os conselhos, os avisos, as exortações e os exemplos deles. Falava sempre dos bens espirituais e materiais de que os selvagens já gozavam sob o novo regime, e com arrebatamentos fantásticos entrevia o futuro, dizendo que outros bens maiores eles ainda viriam a receber. Dizia aos selvagens que os missionários eram verdadeiramente os seus Grandes Pais , e como tais deviam ser considerados. Mais: ele reportava, de contí- nuo, aos missionários todas as faltas, verdadeiras ou falsas, dos selvagens de sua tribo, afirmando ter por único intento não permitir nenhum abuso. Os missionários, ouvindo-o falar dessa maneira e vendo o zelo que demonstrava, depositaram nele toda confiança, e esperavam que por seu intermédio, cedo ou tarde, a sua tribo se convertesse. Mas totalmente oposto era o seu modo de agir quando se achava longe dos missionários. Estes não passavam de intrusos – ele dizia, e proi- bia absolutamente que os seus se fizessem cristãos. Nas muitas relações que mantinha fora da colônia, outra coisa não fazia senão planejar a ruína dela. Chefe de tribo, ausentava-se ocasionalmente da colônia sob o pretexto de ir caçar, mas, de fato, ia era manter contato com os inimigos da Missão, e semear difamações contra ela. De aldeia em aldeia, queixava-se da liberda- de perdida, dos bons tempos – como lhes chamava – da vida nas matas e da vadiagem. Para ele, a embriaguez, as danças obscenas e tudo aquilo que as acompanha, era o seu paraíso; e a todos incitava para a revolta, chaman- do os missionários de inúteis e danosos aos selvagens, e que era necessário baixar a mão sobre o que tinham e mandá-los a seu eterno paraíso. Onde haveria Antônio aprendido tais princípios desconhecidos na selva? De gente que se dizia civilizada e com quem ele andava em con- tato, inimigos dos missionários e da Missão. Para atraí-lo, aquelas pessoas louvavam-lhe incessantemente o espírito de independência e liberdade.
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDA3MTIz