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52 Pe. Bartolameo da Monza se pôde chegar à verdade jurídica sobre o fato, nem se chegará. Mas para quem conhece aqueles lugares, pessoas e costumes, a conclusão é a certeza. Entretanto, os dois selvagens, não havendo alcançado seu nefan- do intento, fugiram para outras aldeias com o fim de subtraírem-se à Justiça. Durante aquela noite e nos dias seguintes, não se falava de outra coisa, na colônia, que não fosse dos dois audaciosos atentados. Todos agradeciam a Deus por haver protegido os seus missionários, e os selvagens eram os primeiros a insistir junto ao padre Celso para que denunciasse os dois facínoras. Padre Celso, porém, manteve-se sempre firme em seu propósito de perdão. Às inúmeras instâncias que lhe eram feitas, ele respondia que os missionários não tinham ido para o meio dos selvagens para ensinar a vingança, mas a lei do amor e do perdão ensina- da pelo mesmo Jesus que, à hora da morte, suplicou a seu Divino Pai em favor daqueles que o crucificavam, dizendo: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem.” Para silenciar aqueles que insistiam na necessidade da denúncia, a fim de que no futuro não se repetissem casos parecidos, ele respondia que, uma vez que os dois selvagens tinham-se refugiado em outras aldeias longe da colônia, não havia mais perigo de assalto, e as demonstrações espontâneas de afeto que recebera de seus filhos, os selvagens, deixavam-no protegido. E na suposição de que ainda houves- se perigo, ele, como cristão, como sacerdote e como missionário, não poderia esquecer o preceito de Jesus Cristo, que disse: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem àqueles que vos odeiam, e pedi pelos que vos perse- guem e caluniam, para que sejais filhos do vosso Pai que está nos Céus.” Sublime doutrina, própria do Evangelho! Doutrina que torna o homem semelhante a Deus, Pai de bondade e de misericórdia! Os dois selvagens fugitivos foram para outras aldeias onde a be- nevolência dos padres missionários não era ainda conhecida mais que de fama. Lá lhes foi mais fácil induzir outros dezoito selvagens a unirem-se a eles e formar uma pequena coluna, que, armada até os dentes, pudesse sem perigo de espécie alguma surpreender os missionários, massacrá-los e acabar com eles e com toda a colônia, para depois continuar na vida de crimes e embrutecimento. Oito dias depois do primeiro assalto, aquelas feras em forma humana, sedentas de sangue, carregando armas de fogo, se puseram em marcha de volta à colônia.
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