BCCCAP00000000000000000001766

O massacre de Alto Alegre  47 termináveis viagens. Ele manifestou tal desejo, e logo ficou sabendo que na Barra do Corda achava-se um certo Manuel Salomão, o qual, juntamente com outro senhor chamado Raimundo de Melo, possuía terrenos em Alto Alegre, e que, solicitados, poderiam vendê-los para a Missão. O lugar foi julgado correspondente à finalidade que o sacerdote tinha em mente. Após as devidas tratativas, e observadas todas as formalidades legais, a proprie- dade passou, mediante pagamento, para a Missão. Feitas instâncias junto ao governador, que naquele tempo era o senhor Carvalho Branco, disposto à civilização dos selvagens, este cedeu uma légua de terra para cada lado da casa que seria levantada, além de meia légua de terra ao redor de cada aldeia, deixando para a Missão a livre administração e os frutos da área, sob condição de serem usados para o sustento e a educação dos pequenos selvagens. Afora uma pequena parte, aquelas terras eram cobertas de mata virgem, mas de conhecida fertilidade, e tinha-se por certo que, uma vez desmatados e arados os terrenos, neles facilmente se plantariam cana-de- -açúcar, café, algodão, legumes, cereais e frutas variadas. Um pequeno lago daria água bastante para as necessidades do dia a dia. Em suma, tudo era animação e encorajamento, e estava assegurado o alimento para os filhos dos selvagens. Com tudo isso, era de se esperar que famílias cristãs e muitos selvagens viessem fixar-se permanentemente na colônia que seria fundada, fazendo roças para si mesmos, trazendo um razoável contingente de habi- tantes para o lugar. O padre Carlo determinou inaugurar a nova colônia de Alto Alegre no primeiro dia de junho de 1896. Não há como dizer do entu- siasmo provocado pelo anúncio do empreendimento. A notícia se espa- lhou como um raio, e, no dia da inauguração da colônia, o padre Carlo e seus missionários viram-se rodeados por uma multidão que tinha vindo da Barra do Corda, de Grajaú, e de todos os arredores para assistir à ce- rimônia. O que, porém, deu maior relevo à solenidade e constituiu a sua verdadeira marca foi o fato de muitos selvagens das aldeias vizinhas terem comparecido, com sua indumentária característica, para tomar parte ativa na inauguração. Naquele dia, o padre Carlo, qual novo Esdras, “bendisse ao grande Senhor Deus, e todo o povo respondeu: ‘Assim seja, assim seja’; e, levantando as mãos, se ajoelharam e, prostrados, adoraram o Senhor”. Aquele foi um dia verdadeiramente santo, um dia consagrado ao Senhor.

RkJQdWJsaXNoZXIy NDA3MTIz